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A separação de um casal, antes da morte, pode constar do planejamento reencarnatório?



Considerando ser o planejamento reencarnatório feito com o objetivo de unir os Espíritos que precisam, por alguma razão, caminharem juntos para crescerem e evoluírem como irmãos, é pouco provável que a separação seja prevista no plano reencarnatório, contudo, acreditamos não ser impossível, em situações pontuais, tal previsão. Explicamos.


Segundo O Livro dos Espíritos[1], a indissolubilidade absoluta do casamento “é uma lei humana muito contrária à da Natureza”, podendo ser, como tal, modificada pelos homens, já que imutáveis só as leis da Natureza, de Deus. O Espírito Miramez[2], ao comentar esta afirmação, destaca ser muito diferente separar o que Deus uniu e aquilo que os instintos inferiores uniram, pois quando não há sintonia espiritual, não há casamento. De outra parte, havendo amor, nada no mundo é capaz de separar, nem mesmo a desencarnação. Esclarece encontrar-se tudo movendo em mutações variadas, de modo que a própria lei dos homens permite a união tão somente enquanto vivem duas criaturas, permitindo-se aos Espíritos unirem-se pelos sentimentos, quando libertos da matéria.


A compreensão deste fato é de fundamental importância para que possamos entender o porquê de, em certos casos, poder existir previsão reencarnatória de separação entre Espíritos antes da desencarnação. Outro ponto a ser ressaltado, conquanto já abordado em questões anteriores, é que no planejamento escolhe-se apenas o gênero de provas que se deva sofrer, não havendo previsão de todos os detalhes e particularidades da vida, sendo essas decorrentes das nossas escolhas, de nosso livre-arbítrio. [3] Em verdade, pela nossa condição de inferioridade, precisamos de auxílio para a realização do projeto de renascimento, onde Espíritos preparados e habilitados para esse mister, os avalistas cármicos, segundo as condições que oferecemos, orientam quanto às opções possíveis a serem vivenciadas na vida material, oportunizando-nos a evolução espiritual necessária.


Pois bem. Em virtude da nossa imperfeição e das inúmeras relações conflituosas que trazemos de um passado de sombras, há muito a ser reparado e depurado, para com muitos Espíritos. Por este raciocínio, acreditamos ser possível que durante certo tempo da reencarnação, uma etapa da vida no corpo físico, precise o indivíduo unir-se a um Espírito em especial, mas que tal necessidade não se estenda até o fim da existência terrena, de modo que, findando o tempo inicialmente previsto, esteja-se apto a vivenciar novas experiências evolutivas, algumas até mesmo de maior magnitude espiritual, desde que bem sucedida nas inicialmente planejadas.


Assim, na programação reencarnatória, pode haver mais de uma opção favorável para que o Espírito realize o aprendizado necessário, naquela existência. Numa primeira união, normalmente provacional, a criatura vivenciará situações mais conflitantes, difíceis, que oportunizarão o desenvolvimento de valores como a resignação, a paciência e o amor ao próximo. Nesta relação, por decorrer de necessidade evolutiva e não de afinidade espiritual, a dissolução é possível, tendo o homem, após uma primeira etapa de união e de experiências redentoras, merecimento para um segundo matrimônio, fundamento agora mais na afinidade que no resgate.

Lembremos ter a Justiça Divina inúmeros mecanismos para a evolução de seus filhos, sendo o casamento um dos mais importantes, pois fortalece o amor e os laços de família. Por meio do casamento têm as criaturas, ligadas por compromissos pretéritos e laços de desafeto, condições de desenvolverem o amor e a fraternidade, desde que consigam, obviamente, vencer a si mesmos durante este aprendizado evolutivo. Lamentavelmente, é ainda o que pouco acontece.


O objetivo do planejamento reencarnatório é o aprimoramento espiritual, podendo esse ser alcançado estando o Espírito na condição de esposa, esposo, filho, pai, mãe, amigo etc., oferecendo o casamento mais uma, dentre muitas, chance de evolução. Portanto, alcançando a união provacional sua finalidade num período de tempo específico, não prolongado até o fim da reencarnação, com o esperado crescimento espiritual dos envolvidos, por que a Espiritualidade não consentiria constar do plano reencarnatório desses Espíritos possibilidade de, após cumprida a primeira etapa reencarnatória depuradora, agora na condição de irmãos em fraternidade e não mais de cônjuges, unirem-se a outros corações com mais afinidade espiritual?


Se examinarmos algumas uniões findas, nas quais os envolvidos conseguem manter um bom relacionamento, chegando mesmo, em certas situações, a ter amizades com os novos parceiros de seus antigos companheiros, perguntamos: como afirmar não terem estas pessoas cumprido sua finalidade reencarnatória, pelo fato de terem separado antes da morte? Hoje, suas relações não são de amizade, de fraternidade e de respeito? O maior objetivo da nossa reencarnação não é evoluir e transformar desafetos em irmãos fraternos? E, sendo a finalidade alcançada antes do desencarne, qual a razão de se impor aos parceiros que permaneçam juntos até a morte, visto não serem almas afins e ter a união provacional decorrido dos impositivos do resgate e não da afinidade espiritual? Não é mais lógico planejar que, após o tempo imprescindível de união, poderá haver uma separação, tendo assim os envolvidos mecanismos de aprenderem outros valores e adquirir novas conquistas evolutivas?


Se a Espiritualidade pode prever, no planejamento reencarnatório, que duas pessoas precisarão estar unidas até a morte de um dos cônjuges, período esse muito variável, pois que há desencarnes a todo o momento, podendo ser de meses, anos ou décadas, por que não poderia a Espiritualidade planejar um casamento pelo mesmo período de tempo, mas sem a necessidade da separação dar-se pelo desencarne e sim pela separação consensual? O tempo de união não seria observado? Não haveria a oportunidade de igual reajuste? Qual a necessidade da separação ocorrer, única e exclusivamente, pela morte do corpo físico? São questões como essas que nos levam a crer na viabilidade de uma separação constar do planejamento reencarnatório de certos Espíritos, conquanto deva acontecer numa frequência bem mais reduzida.


Um grande problema identificado nas relações matrimoniais é a falta de maturidade emocional dos cônjuges para lidar com as dificuldades naturais do relacionamento e, por conta disso, acabam transformando a relação em algo doentio e desrespeitoso para todos os envolvidos, incluindo os filhos. Nestes casos, o objetivo do plano reencarnatório não foi alcançado, os laços de fraternidade não foram construídos e, em outra reencarnação, precisarão os Espíritos estar juntos novamente, talvez não mais na condição de cônjuges, mas de filhos, pais, irmãos etc. Enquanto não saírem os Espíritos vitoriosos das provas, precisarão repeti-las.


Cabe destacar não estarmos aqui falando de separações decorrentes dos chamados casamentos acidentais, por interesse, que não estavam previstos inicialmente no plano de reencarnação do Espírito. Em tais uniões a separação é frequente e mesmo esperada, pois foram movidas pelos instintos e interesses materiais, sem qualquer ascendente espiritual. Estas relações, salvo exceções, agravam a situação evolutiva dos envolvidos, com a assunção de novos débitos e futuros encontros, noutras reencarnações.

[1] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 93 ed. Brasília: FEB, 2013. Q. 697. p.324.


[2] O LIVRO dos Espíritos comentado pelo Espírito Miramez. Disponível em: < https://bit.ly/2OWlwUJ>. Acesso: 28 set. 2018.


[3] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 93 ed. Brasília: FEB, 2013. Q. 259. p.169.

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