Foi um fenômeno que se propagou rapidamente na Europa e em outras partes do mundo, no qual mesas giravam, falavam ou dançavam. Os participantes sentavam ao seu redor, colocavam as mãos sobre a mesa e esperavam que ela se movimentasse. As mesas girantes não se limitavam a levantar sobre um pé para responder perguntas, mas se moviam em todos os sentidos, giravam sob a mão dos pesquisadores e, às vezes, elevavam-se no ar.
Nos anos de 1853 a 1855 constituíram verdadeiro passatempo, sendo quase diversão obrigatória nas reuniões sociais. Segundo o padre Ventura de Raulica, as mesas girantes foram “o maior acontecimento do século”. [1]A princípio quase que só encontrou incredulidade, acreditavam que ali existisse uma causa puramente física, a eletricidade, porém a multiplicidade das experiências não mais permitiu dúvidas, a impulsão dada aos objetos não era apenas o resultado de uma força mecânica cega, havia a intervenção de uma causa inteligente.
Em sua obra As mesas girantes e o Espiritismo Zeus Wantuil esclarece que em 1852, professores da Universidade de Harward, depois de várias experiências realizadas com o mais escrupuloso cuidado, publicaram um Manifesto célebre apoiando a autenticidade dos movimentos e elevação da mesa, sem que para isso existisse a interferência de qualquer agente físico conhecido. Viram-se, em verdade, obrigados a reconhecer que ali havia a manifestação constante de uma força inteligente, que parecia ser independente das pessoas vivas. [2]
O professor, ao ouvir falar das mesas girantes, num primeiro momento não acreditou ser possível, e disse que só acreditaria quando tivessem provado ser possível uma mesa ter cérebro para pensar, nervos para sentir e que possa tornar sonâmbula, vendo no fato, de início, apenas uma história para provocar o sono.[3] Contudo, depois de assistir a manifestação das mesas girantes, em maio de 1855, dedicou-se a estudar com seriedade os fenômenos, resultando na elaboração da Doutrina Espírita.
A precisão das respostas e a correlação que denotavam com as perguntas causaram espanto. O ser misterioso, interrogado sobre a sua natureza, declarou que era Espírito ou Gênio, declinou um nome e prestou diversas informações a seu respeito. Ninguém imaginou os Espíritos como meio de explicar o fenômeno, foi o próprio fenômeno que revelou a palavra. Muitas vezes, em se tratando das ciências exatas, formulam-se hipóteses para dar uma base ao raciocínio, mas não foi o que aconteceu nesta situação.
Um fato também interessante era que o meio de correspondência era demorado e incômodo, pois alguém dizia em voz alta o alfabeto e o Espírito indicava as letras através de pancadas no momento em que fossem pronunciadas, que reunidas, formavam palavras e posteriormente, frases. O Espírito, e isto constitui nova circunstância digna de nota, indicou outro, aconselhando a adaptação de um lápis a uma cesta ou a outro objeto, sendo o conselho dado simultaneamente na América, na França e em outros países. A título de exemplificação, trazemos o conselho dado em Paris, dia 10 de junho de 1853, a um dos mais dedicados e fervorosos adeptos do Espiritismo, que dizia: “vai buscar, no aposento ao lado, a cestinha; amarra-lhe um lápis; coloca-a sobre o papel; põe-lhe os teus dedos sobre a borda”.[4]
O objeto não passa de mero instrumento, sendo completamente indiferentes a natureza e a forma, pois são considerados apenas um apêndice da mão, e só podiam ser postas em movimento sob a influência dos médiuns, que são pessoas dotadas de uma capacidade especial, é dizer, são meios ou intermediários entre os Espíritos e os homens. As manifestações vistas nas mesas girantes chamam-se manifestações físicas, pois se traduzem por efeitos sensíveis, como os ruídos, o movimento e a deslocação de corpos sólidos, sendo umas espontâneas, independentes da vontade humana, e outras provocadas, produzindo-se esses efeitos igualmente sobre todos os outros objetos.
A grande finalidade destas manifestações é chamar a atenção da incredulidade humana para a existência dos Espíritos, mas também pode ser um aviso e, até mesmo, um pedido de ajuda.
Os médiuns gozam de uma força mais ou menos grande, assim como os efeitos, podendo, dependendo da sua potência, fazerem mesas girarem e se moverem, elevarem-se, tombarem, darem salto, girarem com violência, darem golpes na textura do objeto etc. Cabe destacar independer tal fato da forma da mesa, da substância que é feita, do dia, da hora, do tempo, pois apenas o volume importa, no caso da força medianímica do médium ser insuficiente para vencer a resistência.
Durante esses fenômenos, o Espírito combina uma parte do fluido universal[5] com o fluido animalizado liberado pelo médium, pois pela sua natureza etérea, não pode agir o Espírito sobre a matéria grosseira sem a ajuda do intermediário, que é o médium de efeitos físicos. Como isso o Espírito anima a matéria de uma vida fictícia, satura-a com o fluido temporariamente, que obedece ao impulso da inteligência.
Sabendo da importância do médium, cabe mencionar alguns aspectos. Primeiro, no modo pelo qual a cesta se move sob a influência do médium, demonstrando a impossibilidade de o médium imprimir uma direção qualquer, sobretudo, quando duas ou três pessoas colocam juntamente as mãos sob a cesta ou outro objeto, já que nesta situação precisaria haver uma concordância verdadeiramente fenomenal de movimentos e, mais ainda, de pensamentos. Segundo fato, não menos admirável e que vem aumentar a dificuldade, é a mudança radical da caligrafia conforme o Espírito que se manifesta.
Terceiro aspecto, e que resulta da natureza mesma das respostas, era que, quase sempre e especialmente quando se ventilavam questões abstratas e científicas, as respostas estavam notoriamente fora do campo dos conhecimentos e, com frequência, do alcance intelectual do médium. Quarto, era o fato de, não raro, acontecer de a cesta escrever espontaneamente, sem pergunta alguma, sobre um assunto qualquer, inesperado, revelando em certos casos tanta sabedoria que não poderiam emanar senão de uma Inteligência superior, outras vezes eram tão levianas e frívolas que a razão recusava-se admitir derivarem da mesma fonte.
Questionando-se qual a importância dos fenômenos de Hydesville e das mesas girantes para o surgimento do Espiritismo, o escritor inglês Arthur Conan Doyle disse ter sido a de uma invasão organizada[6] pela Espiritualidade Superior, despertando consciências com vistas à chegada de um Era Nova para a Humanidade.
[1] O Consolador. Os fenômenos de Hydesville e as mesas girantes. Disponível em: <https://bit.ly/2odE9I6>. Acesso em: 9 jun. 2018.
[2] WANTUIL, Zeus. As mesas girantes e o Espiritismo. Rio de Janeiro: FEB, [2005?]. p. 11.
[3] KARDEC, Allan. Obras Póstumas. Rio de Janeiro: FEB, 2005. p. 323.
[4] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Introdução. Brasília: FEB, 2013. p. 26.
[5] Sobre o fluido universal, vamos estudar mais detalhadamente nas perguntas subsequentes deste mesmo capítulo.
[6] DOYLE, Arthur Conan. História do Espiritismo. [s.l.]: L. Neilmoris, 2008. p. 12.