Escuta-me, cara amiga, se queres que te diga boas e grandes coisas. Não vês a direção dada a certos acontecimentos, e a vantagem que daí se pode tirar para o progresso da obra santa? Ouve os Espíritos elevados e trata, sobretudo, de não os confundir com os que procuram impor-se por uma linguagem mais pretensiosa do que profunda. Não mistures os teus com os pensamentos deles. Seria possível que os habitantes da Terra pudessem encarar as coisas do mesmo ponto de vista que os Espíritos desprendidos da matéria e obedientes às Leis do Senhor? Não confundas num mesmo conjunto todos os Espíritos: eles são de ordens bem diferentes. O estudo do Espiritismo vo-lo ensina, mas, deste lado, quanto tendes ainda a aprender! Há, na Terra, uma enormidade de indivíduos cuja inteligência não se assemelha absolutamente; alguns dentre eles parecem aproximar-se mais dos animais que do homem, ao passo que existem outros de tal modo superiores que se é tentado a dizer que se aproximam de Deus, espécie de blasfêmia, que se deve traduzir pelo pensamento de que eles têm em si uma centelha dessas claridades celestes, lançadas em seu coração pelo Divino Mestre. Pois bem! Seja qual for a diversidade das inteligências na raça humana, convence-te de que tal diversidade é infinitamente maior ainda entre os Espíritos. Neste ponto há os inferiores, que não têm semelhantes entre os homens, enquanto os há bastante purificados para se aproximarem de Deus e o contemplar em toda a sua glória. Submetidos às suas menores ordens, só aspiram a obedecer e a agradar. Chamados a circular em meio dos mundos ou a fixar-se segundo o que convém à execução dos grandes desígnios do Senhor, a uns diz: Ide, revelai meu poder a esses seres grosseiros, cuja inteligência já é tempo de despertar. A outros: Percorrei esses mundos, a fim de que, guiados por vossos ensinos, os seres superiores que os habitam juntem novas grandezas a todas as que já lhes foram reveladas. Que todos sejam instruídos de que chegará o dia em que as claridades do Alto não mais serão obscurecidas, mas brilharão eternamente.
Teu amigo
(Comunicação particular obtida pela Sra. Desl..., membro da Sociedade, de seu finado marido)
Allan Kardec – Revista Espírita: Jornal de Estudos Psicológicos. p. 237-238; N.5 ; Ano 3,1860. FEB Editora.