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O movimento espírita deve dar sua opinião sobre a política?

Atualizado: 11 de mai. de 2020



“O maior entre vós seja como o menor; e quem governa seja como quem serve.”[1] Observando atentamente a humanidade, vemos que a transformação íntima só se torna efetiva e verdadeira quando ela é irradiada para a coletividade em que vivemos. O Espiritismo nos fala da realidade do espírito e do seu processo evolutivo, ensinando-nos que a felicidade é uma construção individual e coletiva, não sendo possível ao indivíduo ser feliz vendo o seu entorno repleto de carência, lágrima e dor.


Haverá alguma relação entre Espiritismo e Política? Sobre o aspecto filosófico, o Espiritismo tem muito a ver com a Política, pois esta deve ser a arte de administrar a sociedade de forma justa. Consequentemente, o espírita não pode declinar da sua cidadania e deve vivenciá-la de forma consciente e muito responsável. Qual seria então o significado da afirmação de Kardec ao recomendar aos centros que deixassem de lado as questões políticas? Que não devemos trazer para o centro espírita as campanhas e militâncias partidárias, pois o lugar para o seu exercício é nas agremiações e locais respectivos.


Entretanto, dos próprios princípios do Espiritismo decorrem as questões políticas. A partir do momento em que se fala em reforma íntima e moral, em uma nova visão de mundo, em transformação da sociedade, em desapego dos bens materiais, da prática do amor, da justiça e da caridade, fala-se em política. Na questão n º 573 de O Livro dos Espíritos, ao serem os Espíritos questionados por Kardec acerca da sua missão, respondem ser a de instruir os homens, a de ajudar no seu progresso e, também, ; a de melhorar suas instituições por meios diretos e materiais.[2]



Assim, não pode o espírita alienar-se no seio da sociedade em que vive, alegando que Espiritismo e Política não têm qualquer relação, pois é preciso lembrar que a vida material e a vida espiritual são dimensões contínuas da própria Vida. Para o espírita, essa ação política deve inspirar-se no aspecto filosófico do Espiritismo, que o leva a amar o próximo, a desejar o seu bem, a estimular a sociedade humana a ter hábitos espiritualizados, a desenvolver a inteligência e a elaborar leis justas, em benefício de todos.





O Espiritismo trabalha com a educação. Esta é a base da própria Doutrina, pois, para praticá-la, temos de nos educar, tendo essa um conteúdo extremamente político, pois muda a forma de ver o mundo e de agir nele. Ressalte-se não se buscar aqui fazer política no aspecto partidário, mas sim auxiliar na conscientização dos espíritas sobre como entender a sociedade e agir nela de uma forma mais positiva.


Na apresentação da obra Espiritismo e política, o professor Ayrton Aylton Paiva elucida não se tratar de estimular a participar da política partidária dos espíritas, nem de afirmar que o espírita deve ou não participar, de modo atuante, de uma organização política, mas tão somente de reconhecer o direito do espírita escolher livremente, como membro de uma sociedade, de que modo contribuirá para que as relações humanas sejam, progressivamente, melhoradas no sentido da paz, da justiça e do amor fraternal.[3]


Cabe mencionar um texto de Emmanuel, intitulado “Política”, presente no livro Alma e Luz[4], pela psicografia de Chico Xavier, onde inicia citando o Evangelho de Lucas, capítulo 22, versículo 26, que traz a frase de Jesus: “E quem governa seja como quem serve”. No texto, o autor Espiritual ensina que o Evangelho apresenta, do mesmo modo, a mais elevada fórmula de vida político administrativa aos povos da Terra, não penetrando ainda toda a verdade das suas lições divinas aqueles que afirmam não se compadecerem semelhantes serviços com os labores do Mestre.


Diz que a questão maior é encontrar elemento humano disposto à execução do sublime princípio, na medida em que os ideais democráticos do mundo não derivam senão do próprio ensinamento do Salvador. Questiona se algum sociólogo do planeta pode encontrar uma plataforma superior além da gloriosa síntese que reclama o governante as legítimas qualidades do servidor fiel? Afirma que as revoluções, que derramaram tanto sangue, foram demonstrações de uma ânsia na obtenção da fórmula sagrada na realidade política das nações e, ainda assim, foram movimentos criminosos, desleais, infiéis e perversos, com falsos políticos na atuação do governo comum.





Com muita propriedade, assevera estar o ensinamento de Jesus ainda acima da compreensão vulgar das criaturas, pois a grande maioria dos homens preocupa-se com conquista dos postos de autoridade e de evidência por estarem interessados, excessivamente, nas suas próprias vantagens e no imediatismo do mundo, ignorando que o Cristo aí conta com eles, mas não como aqueles que governam de forma tirânica ou arbitraria, mas como quem serve com alegria, é dizer, não administrando a golpes de força, mas obedecendo ao Esquema Divino, junto dos seres e coisas da vida. Finaliza dizendo ser Jesus o Supremo Governador da Terra e, ao mesmo tempo, o Supremo Servidor das criaturas humanas.


Herculano Pires, no livro O Centro Espírita[5], elucida que o Espiritismo se liga a todos os campos das atividades humanas não objetivando entranhar-se neles, mas sim para levar as luzes do Espírito, pois servir o mundo por meio de Deus é a sua função e não servir a Deus por meio do mundo. Deste modo entendemos fundamentais o Espiritismo e a Política para a construção de Uma Nova Sociedade.


Lembremos, ainda, que reconhecidos trabalhadores do movimento espírita desempenharam, com méritos, atividades políticas junto aos poderes públicos, como Cairbar Schutel, José de Freitas Nobre e o nosso querido Adolfo Bezerra de Menezes.

Apoiado, portanto, na moral evangélica e sem comprometer-se com legendas ou organizações partidárias, o Movimento Espírita pode contribuir, no campo das ideias, para a solução dos problemas políticos e sociais que surgem, naturalmente, no processo da evolução planetária. E, para finalizar a questão, trazemos a afirmação de Kardec, em A gênese:

O Espiritismo não cria a renovação social; a madureza da humanidade é que fará dessa renovação uma necessidade. Pelo seu poder moralizador, por suas tendências progressistas, pela amplitude de suas vistas, pela generalidade das questões que abrange, o Espiritismo é mais apto do que qualquer outra doutrina, a secundar o movimento de regeneração, por isso, é ele contemporâneo desse movimento.[6]

[1] Lucas 22:26.


[2] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 93 ed. Brasília: FEB, 2013. Q. 573. p. 275.


[3] PAIVA, Ayrton Aylton. Espiritismo e Política, contribuições para a Evolução do Ser e da Sociedade. [s.l.]: FEB, [2014?]. p. 17.


[4] XAVIER, Francisco Cândido. Alma e Luz. Pelo Espírito Emmanuel. [s.l.]: IDE: 1990. p.14.


[5] PIRES, José Herculano. O Centro Espírita. São Paulo: Paideia. 2008. p. 56.


[6] KARDEC, Allan. A Gênese. 53 ed. Brasília: FEB, 2013. p. 368.

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