Não, os fenômenos mediúnicos sempre existiram. A mediunidade é faculdade inerente à espécie humana, a comunicação entre os dois planos da vida sempre foi conhecida, desde tempos imemoriais. Entretanto, teve de se submeter a um processo lento e gradual de evolução, cuja história acompanha a própria evolução do Espírito.
Os primeiros habitantes do Planeta chamavam deus a tudo o que apresentava qualquer característica sobrenatural, qualquer coisa que lhes escapava ao entendimento, tais como fenômenos da natureza e até habilidades percebidas em outro indivíduo que o distinguia dos demais. Em consequência, rendiam-lhes cultos e, por não possuir o senso moral e intelectual desenvolvido, os povos primitivos ofereciam aos deuses sacrifícios humanos e de animais, assim como oferendas dos frutos da terra. Tais cultos eram marcados por práticas anímicas e mágicas que perduraram por milênios.
Através das experiências reencarnatórias, o homem aprende a utilizar sua energia espiritual, extraindo elementos do fluido cósmico universal, que será oportunamente estudado em pergunta posterior, elaborando e aperfeiçoando seus mecanismos de expressão e de comunicação, entre si e com os habitantes do mundo espiritual.
Inicia-se, desta feita, o processo civilizatório propriamente dito, que tem o poder de modificar a face do Planeta. O processo evolutivo não foi, obviamente, executado exclusivamente pelo indivíduo, sempre esteve secundado por inteligências superiores, permitindo que o corpo espiritual (perispírito) se aperfeiçoasse também e, como resultado, produzisse um veículo físico apto a alçar voos mais altos.
À medida que o Espírito evolui através das inúmeras reencarnações, naturalmente suas faculdades perceptivas são ampliadas, aprende a refinar as ondas do pensamento, pois o psiquismo humano encontra-se mais bem estruturado. Por meio da sintonia, emite vibrações que atraem o pensamento e as ideias de Espíritos semelhantes, encarnados e desencarnados.
A intuição foi o sistema inicial de intercâmbio e, com o passar dos tempos, o ser espiritual percebe que a mente é a chave de tudo, sendo ela a orientar todas as necessidades evolutivas do espírito. O pensamento, força criativa, envolve as mentes dentro de seu raio de ação, mas também, pelos mecanismos da reciprocidade, é influenciada por Espíritos, encarnados e desencarnados, superiores e inferiores.
Buscando fazer uma síntese histórica da Mediunidade, trazemos a sequência mencionada na apostila Mediunidade: Estudo e Prática, programa 1, organizadora Marta Antunes de Oliveira, editada pela Federação Espírita Brasileira, cujo conteúdo foi inspirado em três obras espíritas: Evolução em dois mundos, do Espírito André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier, FEB; A caminho da luz, do Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, FEB; e O espírito e o tempo — Introdução Antropológica do Espiritismo, de Herculano Pires. Editora Edicel.
Incialmente traz a mediunidade primitiva, onde consta a intuição como sendo a mediunidade inicial. Observa-se o médium idólatra, que adora ou teme as forças da natureza, designadas como “deuses”: sol, céu, lua, estrelas, chuva, árvores, rios, fogo, ser humano que se destaca na comunidade. Após temos a mediunidade tribal, na qual se desenvolve uma mentalidade mediúnica coletiva, com a crença grupal em Espíritos ou deuses. Surgem as concepções de céu-pai, como o Criador ou o fecundador, e terra-mãe, como a geratriz, a que foi fecundada pelo criador.
O fetichismo já era uma forma mais aprimorada do mediunismo tribal, com um forte colorido anímico, caracterizado pelo culto aos fetiches ou objetos materiais, em representação da Divindade ou dos Espíritos. Aparece a figura do curandeiro ou feiticeiro, sempre muito respeitada e reverenciada e, ao mesmo tempo, amada e temida pelos demais membros da tribo ou clã. Como o passar do tempo, as práticas se desdobraram em outras, atualmente conhecidas como vodu e magia negra.
Temos também o mediunismo mitológico, caracterizando-se a prática mediúnica pela presença dos mitos, com um simbolismo da criação do universo e dos seres, assim como pela magia, por meio de práticas mediúnicas e anímicas de forte conotação ritualística. O mediunismo oracular foi aquele surgido no período da história humana considerado como início da civilização, sendo politeísta e religioso. Os deuses, os Espíritos, eram cultuados pela sociedade, faziam parte de uma sociedade hierarquizada, onde há um deus maior, Zeus, vivendo em local determinado, como Olimpo. Tais deuses são imortais, poderosos, mas possuem paixões típicas dos homens mortais, como o ódio, amor, rancor, compaixão.
Cada deus é responsável pelo governo de uma parte da terra ou dos seres terrestres, constituindo os oráculos o cerne de toda a atividade humana, nada se fazendo sem consultá-los previamente, sendo a Grécia considerada o centro da mediunidade oracular, com o oráculo de Delfos sendo o mais famoso e representando a divindade. Os Espíritos e os deuses falavam por intermédio de um médium, denominado pitonisa, ou ocupavam temporariamente o seu corpo para se manifestarem e, ainda, utilizavam objetos do templo, como uma estátua, ou elementos da natureza.
Na Antiguidade, segundo Emmanuel, a mediunidade apresenta as seguintes características: uma face externa ou exotérica, de natureza politeísta, teatral, supersticiosa, repleta de magia, destinada às manifestações públicas e uma face interna ou esotérica, de essência monoteísta, envolvendo graus de árdua iniciação que eram praticadas no interior dos templos por médiuns, magos, pitonisas etc., genericamente denominados “iniciados”, que eram mantidos sob supervisão de sacerdotes.
Na verdade, a prática mediúnica do início dos tempos surgiu com mais ênfase não só entre os gregos, mas também entre outros povos gregos, egípcios, hindus e judeus. Quando observamos a Bíblia, vamos constatar a mediunidade como algo natural e exuberante, o profetismo era a mediunidade que mais se destacava e foi importante para o surgimento da primeira religião conhecida, o Judaísmo.
Lembremos ainda da figura ímpar de Moisés, detentor de grande mediunidade e de poderosos recursos espirituais, tendo Deus a ele concedido a missão de trazer ao mundo material os Dez Mandamentos da Lei divina. O próprio dia de Pentecostes, constante em Atos 2: 1-13, caracteriza-se como o maior feito mediúnico conhecido, marcando o início da prática mediúnica propriamente dita.
Tudo acontece na época apropriada e conforme o entendimento da humanidade. O Espiritismo não criou os fenômenos mediúnicos, mas veio explicá-los, retirar o véu sobre aquilo que até então era desconhecido. Considerando que as coisas vão se definindo aos poucos, através do tempo, não se mostrando logo em sua completude, podemos dizer que todo o passado foi como uma preparação para o futuro advento do Espiritismo.
Finalizamos o tema, por oportuno, com O Evangelho Segundo o Espiritismo, ao afirmar que todo conhecimento deve ser proporcional à inteligência daquele a quem é dirigido, pois sabemos existirem pessoas a quem uma luz muito forte ofusca sem esclarecer, de modo que a prudência a manda ocultar até que, chegado o homem a certo grau de desenvolvimento, possa procurar a luz, pesando-lhe a obscuridade. Desta feita, tudo o que está oculto será um dia revelado, e o que o homem não pode ainda compreender na Terra, será sucessivamente revelado nos mundos mais avançados, quando estiver mais purificado e depurado. [1]
[1] KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 131 ed. Brasília: FEB, 2013. p. 292.