Na condição em que hoje a humanidade encontra-se, muito limitada intelectualmente e, principalmente, moralmente, não temos condições de saber a resposta exata desta pergunta, pois somente com a depuração do Espírito isso será possível. A espiritualidade superior, em vários questionamentos de O Livro dos Espíritos, quando analisamos conjuntamente, dá-nos prova da nossa atual limitação.
Inicialmente vejamos a pergunta número 11, quando Kardec pergunta se será dado, ao homem, um dia compreender o mistério da Divindade. Na ocasião respondem os Espíritos que tal somente será possível “quando seu Espírito não estiver mais obscurecido pela matéria e, pela sua perfeição, estiver próximo dele”[1], quando então O verá e também O compreenderá.
Kardec, na pergunta sobredita, faz uma observação dizendo justamente sobre a inferioridade do homem, não conseguimos entender a natureza íntima de Deus e que somente com a evolução do senso moral, seu pensamento conseguirá penetrar melhor o âmago das coisas, oportunidade em que poderá fazer uma ideia mais justa e mais conforme a razão da ideia Deus, conquanto sempre incompleta.
Outro questionamento é o de número 17, que está justamente no item referente ao conhecimento do princípio das coisas. Aqui a pergunta é se é dado ao homem conhecer o princípio das coisas, o início de tudo, onde podemos incluir também a criação dos Espíritos, sendo mais uma vez negativa, com a informação de que “Deus não permite que tudo seja revelado ao homem neste mundo”[2], é dizer, na nossa condição ainda não é possível. Na pergunta subsequente, a de número 18, o questionamento é se o homem penetrará um dia o mistério das coisas que lhe estão ocultas e, novamente, a resposta dos Espíritos segue a mesma linha, ao afirmarem que o véu se levanta para o homem à medida que se depura e, acrescenta, que “para compreender certas coisas precisa de faculdades que ainda não possui”[3].
Seguindo a mesma linha de raciocínio, em A Gênese, Kardec afirma que o homem precisa de um sentido que ainda não possuímos para compreender a natureza íntima de Deus e que só o adquiriremos com a depuração do Espírito, com o tempo.[4] Analisando também a pergunta 38, referente à criação e especificamente em como Deus criou o Universo, a resposta da Espiritualidade apenas informa que Deus o criou por sua vontade, tendo dito “Que a luz seja, e a luz foi”[5], sem adentrar em maiores detalhes de o porquê ou como, por conta da nossa limitação.
Caminhando em O Livro dos Espíritos, vemos agora na pergunta 81[6] que Kardec busca saber se os Espíritos se formam espontaneamente ou procedem uns dos outros, tendo os Espíritos informado que Deus os cria como a todas as outras criaturas, pela sua vontade, mas que a origem deles é um mistério. Novamente a resposta como a desejamos, com explicação minuciosa, não nos é fornecida, corroborando para a ideia de que somente com a evolução do Espírito será possível adentrar no conhecimento destas coisas.
Conquanto não tenhamos condições de compreender o início das coisas, há uma pergunta em O Livro dos Espíritos que, juntamente com o Evangelho Segundo o Espiritismo e O Céu e o Inferno, podem nos dar um norte da razão pela qual Deus nos criou. A pergunta 132[7] questiona qual o objetivo da encarnação dos Espíritos, tendo eles respondido que o objetivo é alcançar a perfeição, através das vicissitudes da vida, e para colocar o Espírito em condições de suportar sua parte na obra da criação, visto que cada um de nós tem uma função dentro da obra da criação, contribuindo também para a marcha do Universo. Deus não teria criado o Universo para ficar sem habitação, sem Espíritos, para o nada. Não faria sentido.
Pela leitura das informações sobreditas, já observamos um motivo, uma razão para a nossa existência, que é contribuir na obra da criação, mas ainda há outra, conforme nos mostra o Evangelho Segundo o Espiritismo. Nessa obra, no capítulo XI, item 13, consta a informação de que “Deus nos criou para sermos felizes na eternidade”[8], sendo tal assertiva ratificada em O Céu e o Inferno, quando no Capítulo 6, item 16, afirma que Deus criou as almas para fazê-las felizes, sendo este o fito do Criador, ou Ele não seria bom.[9]
Portanto, acredito que através de uma leitura global do pentateuco Kardequiano, podemos afirmar que, conquanto ainda não tenhamos plenas condições de compreender o princípio das coisas, Deus nos criou para a felicidade e para contribuirmos na obra da Sua criação, na marcha do Universo.
[1] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 93 ed. Brasília: FEB. 2013. p. 58.
[2] Id., ibid. p. 61.
[3] Id., ibid. Q. 18. p. 61
[4] KARDEC, Allan. A Gênese. 53 ed. Brasília: FEB. 2013. p. 51.
[5] Id. O Livro dos Espíritos. 93 ed. Brasília: FEB. 2013. Q. 38. p. 67.
[6] Id.,ibid. Q. 81. p. 86.
[7] Id.,ibid. Q. 132. p. 105.
[8] Id. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 131 ed. Brasília: FEB. p; 161.
[9] Id. O Céu e o Inferno. 61 ed. Brasília: FEB. 2013. p. 71.