É um dos Espíritos mais evoluídos e importantes da era cristã, por ter tido a missão de trazer Jesus ao mundo e pela forma como sempre se conduziu, com amor, fé e sabedoria, mesmo no calvário. Maria, filha de Joaquim e Ana, nascida entre 18 ou 20 a.C. em Jerusalém ou Séforis, na Galileia, sendo seu nome Maria (ou Miriam) de origem hebraica, significando Senhora da Luz. Durante a infância, viveu em Nazaré, tendo possivelmente casado aos 14 anos com o carpinteiro José, da tribo de Davi.
Falando-nos Emmanuel sobre Maria, informa que o Supremo Poder do Universo, procurando alguém no mundo para exercer a indispensável tutela sobre a vida preciosa do seu filho Jesus, o Embaixador Divino, não hesitou em recorrer à abnegada mulher, escondida num lar apagado e simples. Era humilde, mas ocultava a experiência dos sábios, era frágil como o lírio, mas trazia em si a resistência do diamante, pobre entre os pobres, carregava os tesouros incorruptíveis do coração, e, conquanto desvalida entre os homens, era grande e prestigiosa diante de Deus.[1]
Maria, depois de ter recebido a visita do anjo que lhe disse sobre a vinda de Jesus, profere um dos mais belos cânticos de louvor e agradecimento a Deus:
A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque atentou na humildade de — sua serva; pois eis que, desde agora, todas as gerações me chamarão bem-aventurada. Porque me fez grandes coisas o Poderoso; e Santo é o seu nome. E a sua misericórdia é de geração em geração sobre os que o temem. Com o seu braço, agiu valorosamente, dissipou os soberbos no pensamento de seu coração, depôs dos tronos os poderosos e elevou os humildes; encheu de bens os famintos, despediu vazios os ricos, e auxiliou a Israel, seu servo, recordando-se da sua misericórdia (como falou a nossos pais) para com Abraão e sua posteridade, para sempre.[2]
Na literatura espírita, encontramos vários registros sobre Maria. Momentos emocionantes da vida de Maria são contadas, em detalhes, na obra Boa Nova[3], de Humberto de Campo, no do último capítulo do livro intitulado Maria. Durante a crucificação, por exemplo, o autor descreve a dor profunda e silenciosa de Maria, comovendo-nos profundamente e nos levando a uma grande reflexão acerca da grande elevação desse Espírito.
Diz o autor que junto da cruz, o vulto agoniado de Maria trazia dolorosa e indelével impressão. Tinha a mãe de Jesus o pensamento ansioso e torturado, seus olhos estavam fixos no madeiro das perfídias humanas, sua ternura de mãe regredia ao passado em recordações amargas, pois ali estava, na hora extrema, seu filho amado. Naquele momento, Maria deixava-se seguir com as lembranças, as circunstâncias felizes do anúncio do nascimento de Jesus, a amizade de Izabel, o velho Simeão e suas profecias, tudo em reconhecimento ao amparo de Deus, que era incontestável nos pequenos detalhes da sua vida.
Naquele instante supremo, a mãe Maria recordava a manjedoura, na sua beleza agreste, sentindo como se a Natureza desejasse dizer novamente em seus ouvidos o cântico de gloria daquele momento inesquecível. Através do véu espesso das lágrimas, repassava ela as cenas da infância do filho, reconhecendo, nas menores coisas, a intervenção da Providência celestial, embora naquela hora de sofrimento, seu pensamento vagasse também pelo mar das mais aflitivas interrogações.
Questionava-se Maria que profundos desígnios teriam conduzido seu filho tão amado à cruz do suplício? Ouvia uma voz amiga falar-lhe ao espírito acerca das determinações insondáveis e justas de Deus, aos quais necessitavam ser aceitas para que houvesse a redenção divina das criaturas. Embora seu coração encontrasse-se em tempestades de lágrimas irreprimíveis, no fundo de sua consciência sua humildade sincera repetia: Faça-se na escrava a vontade do Senhor!
Certo tempo após a crucificação do Mestre, o autor espiritual conta que João, lembrando-se das palavras e orientações de Jesus, vai ao encontro de Maria e lhe fale sobre sua nova vida, pregando e transmitindo os ensinamentos de Jesus. Maria segue com o abnegado apóstolo para Éfeso e lá segue também amparando e transmitindo ao coração do povo as mensagens da Boa Nova, sem deixar de trabalhar um único dia em prol do próximo e, mesmo chegando à velhice, não sentia cansaço nem amarguras.
Segundo Humberto de Campos, Maria, próximo ao desencarne, recebe a visita de seu filho Jesus quando, absorta em suas meditações, viu aproximar-se o vulto de um pedinte que a chamou “Minha Mãe”, dizendo vir fazer-lhe companhia e receber sua benção. Como de costume, Maria o convidou para entrar, impressionada com aquela voz que lhe inspirava tanta simpatia. O peregrino, até então não tendo sido reconhecido pela mãe, falou do céu, confortou Maria delicadamente, comentou sobre as bem-aventuranças divinas que aguardam a todos os filhos de Deus devotados e sinceros.
Recorda que Maria sentiu-se empolgada por forte surpresa, perguntando-se quem seria aquele mendigo que lhe acalmava as dores secretas da alma saudosa, com bálsamos tão doces?, pois até aquele momento nenhum outro havia surgido para dar, era sempre para pedir alguma coisa, tendo seus olhos se umedecido de ventura, sem conseguir explicar o motivo de sua amável emotividade. Foi então que o hóspede estendeu as mãos generosas e falou a Maria com profundo amor: “Minha mãe, vem aos meus braços!”. Naquele instante sublime, ela olha as mãos nobres e tomada de profunda emoção, viu nelas duas chagas iguais as de Seu filho na cruz, dirigindo, instintivamente, o olhar ansioso para os pés do peregrino amigo, momento em que viu também lá as úlceras causadas pelos cravos do suplício.
Sem poder mais se conter, compreendendo a visita amorosa que Deus enviava ao coração, falou em infinita alegria: “Meu filho! Meu filho! As úlceras que te fizeram!”. E, movida por um sentimento de amor, num ímpeto, fez um movimento para se ajoelhar, pois desejava abraçar-se aos pés do seu Jesus e beijá-los com ternura. Ele, entretanto, levantou-a e, cercado de um halo de luz celestial, ajoelhou-se aos pés e lhe beijou as mãos, dizendo: “Sim, minha mãe, sou eu! Venho buscar-te, pois meu Pai quer que sejas no meu reino a Rainha dos Anjos”.
Ao se libertar do vaso físico, Ela desejou, primeiramente, rever a Galileia e logo em seguida visitou os cárceres sombrios de Roma, repletos de discípulos do Mestre que aguardavam a morte certa, quando lhes infundiu a força da alegria cristã, transmitindo sugestão a uma jovem encarcerada, sugerindo que ela cantasse, que tivesse bom ânimo, convertendo as dores da Terra em alegrias para o Céu e, logo em seguida, conduz a caravana a bendita entre as mulheres ao Reino do mestre, para que a partir deste dia, nos tormentos mais duros, os discípulos de Jesus cantem na Terra, exprimindo o seu bom ânimo e a sua alegria, guardando a suave herança de mãe Santíssima.
Trazemos linda poesia, intitulada Retrato de Mãe[4], na qual o Espírito Maria Dolores relata o amparo doce e maternal prestado pelo Espírito de Maria a Judas, que se encontrava em região do umbral há muito tempo, cego e sozinho. Na parte final do diálogo com Judas, o discípulo suicida, em muito sofrimento e remorso, Maria argumenta com seu profundo amor:
Amo-te, filho meu, amo-te e quero Ver-te, de novo, a vida Maravilhosamente revestida De paz e luz, de fé e elevação… Virás comigo à Terra, Perderás, pouco a pouco, o ânimo violento, Terás o coração Nas águas de bendito esquecimento, Numa nova existência de esperança, Levar-te-ei comigo A remansoso abrigo, Dar-te-ei outra mãe! Pensa e descansa!…
E Judas, neste instante, Como quem olvidasse a própria dor gigante ou como quem se desagarra De pesadelo atroz, Perguntou: – quem sois vós Que me falais assim, sabendo-me traidor? Sois divina mulher, irradiando amor Ou anjo celestial de quem pressinto a luz?!
No entanto, ela a fitá-lo, frente a frente, Respondeu simplesmente: – Meu filho, eu sou Maria, sou a mãe de Jesus.
Maria é sinônimo de amor e de dedicação fraternal, despertando grande simpatia e admiração entre devotos de todas as religiões. Milhares de fiéis pedem sua intercessão, acreditando que Jesus não negaria um pedido seu, havendo, inclusive, Espíritos abnegados que trabalham em seu nome, recebendo suas orações e auxiliando aos que sofrem.
No livro Memórias de um Suicida[5], há registros dela na espiritualidade, sendo a dirigente da instituição Legião dos Servos de Maria, especializada no resgate de suicidas das zonas inferiores. O autor espiritual da obra, Camilo Cândido Botelho, informa que a missão de cuidar e de amparar espíritos suicidas não poderia ser desempenhada por outro coração a não ser o de Maria, por ser referência de amor e dedicação fraternal.
Em determinado momento da obra, esclarece-se que, geralmente, os avisos e as ordens vêm de Mais Alto, de onde paira a assistência magnânima da piedosa Mãe da Humanidade, a Governadora de Legião, Maria. Informa que se as entidades não pertencem à sua tutela direta de Guardiã, pode-se pedir o seu favor em prol dos transviados, seu amoroso concurso, visto existir fraterna solidariedade entre as várias agremiações do universo Sideral, infinitamente mais perfeitas que as existentes na Terra.
Sobre o retrato de Maria, muito conhecido no meio Espírita, constam informações no Anuário Espírita de 1986 de ter sido um retrato psicografado, no qual o Espírito Emmanuel, por meio de Chico Xavier, ditou o retrato falado de Maria de Nazaré ao fotógrafo Vicente Avela[6], de São Paulo. Segundo o fotógrafo, Chico teria deixado claro que a fisionomia de Maria, da forma como retratada, revela exatamente como Ela é conhecida quando visita as esferas espirituais mais próximas da crosta terrestre, como por exemplo, a Legião dos Servos de Maria, destacando, ainda, que, na realidade, não houve pintura e sim um trabalho basicamente fotográfico, fruto de retoques contínuos realizados num retrato falado inicial, tudo acontecendo sob a orientação mediúnica de Chico Xavier. Após a conclusão da tarefa pelo fotógrafo, com a arte final em pequena foto branco-e-preto, a mesma foi ampliada e colorida com tinta a óleo, dando origem à tela que foi divulgada.
Observa-se, portanto, continuar Maria até hoje zelando com muito amor e carinho pela Humanidade terrestre, encarnada e desencarnada.
[1] XAVIER, Francisco Cândido. Religião dos Espíritos. Pelo Espírito Emmanuel. [s.l.]: Luz Espírita, 2016. p. 115.
[3] XAVIER, Chico. Boa Nova. Pelo Espírito Humberto de Campos. 20 ed. Rio de Janeiro: FEB, [2013?]. p. 196.
[4] XAVIER, Francisco Cândido. Espíritos Diversos – Momentos de Ouro. 1 ed. [s.l.]: GEEM, 1977. p. 38.
[5] PEREIRA, Yvonne do Amaral. Memórias de um Suicida. Pelo Espírito Camilo Cândido Botelho. [s.l.]: Luz Espírita, 2008. p. 19.
[6] Jardim Espírita. Post. 37: Retrato Psicografo de Maria. Disponível em: <https://bit.ly/2oerPaz>. Acesso em: 10 jun. 2018.